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quinta-feira, 26 de março de 2015

Políticos de cinco partidos estão na lista de contas do HSBC na Suíça

 

Estado do Rio tem ao menos quatro representantes nas planilhas que reúnem correntistas do banco

por Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta

26/03/2015 4:00

RIO - Políticos de cinco partidos aparecem na lista dos 8.667 brasileiros que tinham contas numeradas (sigilosas) no HSBC da Suíça entre 2006 e 2007. O Estado do Rio de Janeiro tem quatro representantes: o primeiro vice-presidente do PSDB-RJ, Márcio Fortes, o ex-prefeito de Niterói Jorge Roberto Silveira (PDT-RJ), seu secretário de Obras à época, José Roberto Mocarzel, e o vereador Marcelo Arar (PT-RJ). Procurados pela reportagem, eles negaram ter cometido qualquer irregularidade.

Políticos de cinco partidos na lista do HSBC

Filhos de prefeito também são correntistas

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  • .Foto: Editoria de Arte
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RIO - O levantamento feito pelo GLOBO, em parceria com o UOL, também identificou a presença de Lirio Parisotto, suplente de senador pelo PMDB-AM, e Daniel Tourinho, presidente nacional do PTC, além das duas irmãs do deputado federal Paulo Maluf (PP-SP).

Também foram correntistas do HSBC três filhos do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB-MG). Eles, no entanto, apresentaram documentos que comprovam que suas contas foram oficialmente declaradas no Brasil e, portanto, são legais.

Ao nome do tucano Márcio Fortes, estão relacionadas três contas. Duas delas foram abertas em 1991, quando ele presidia o Banerj. Uma foi fechada em 2003, e a outra, em 2004. Nesse período, Fortes foi eleito deputado federal. Na declaração de bens que enviou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) em 1998, ele não informou ter contas na Suíça. Em dezembro de 2003, ano em que assumiu seu segundo mandato, abriu a terceira conta, segundo os documentos do HSBC. Em 2006/2007, o saldo era de US$ 2,4 milhões. Em 2006, Fortes voltou a se candidatar ao cargo de deputado, mas não foi eleito. Na declaração de bens enviada ao TRE-RJ também não informou qualquer conta na Suíça.

Fortes é empresário da construção civil e um tradicional doador de campanha. Em 2000, foi a pessoa física que mais doou ao PSDB — o equivalente a 21% do total arrecadado. Fortes já foi presidente do BNDES (1987-1989) e secretário municipal de Obras do Rio (1993-1994).

O ex-prefeito de Niterói Jorge Roberto Silveira e José Roberto Mocarzel também estão entre os donos de contas numeradas. Segundo o banco, o ex-prefeito começou a fazer depósitos em julho de 1993 e encerrou sua conta em abril de 2003. Morcazel abriu a sua contas em janeiro de 1991 e a fechou também em abril de 2003, apontam os documentos do banco. Em 2006/2007, seus saldos estavam zerados.

Jorge Roberto administrou Niterói por quatro períodos: de 1989 a 1992, de 1997 a 2000, de 2001 a 2002 (quando saiu para concorrer ao governo do estado e perdeu para Rosinha Garotinho) e de 2009 a 2012. Em seu currículo, ainda tem o cargo de secretário de Projetos de Integração Social do segundo governo de Leonel Brizola (1993) e uma candidatura fracassada ao Senado em 1994.

Mocarzel é tido como seu braço-direito. Em janeiro de 2009, assumiu o posto de secretário municipal de Obras e, em 2012, ao fim do mandato de Jorge Roberto, já havia passado pela Secretaria Municipal de Serviços Públicos, Trânsito e Transporte. A vida política dos dois foi afetada pela tragédia do Morro do Bumba, deslizamento de terra que, em 2010, matou mais de 50 pessoas. Há dois anos, Mocarzel chegou a ser indiciado por homicídio culposo e crime ambiental. Na época da tragédia ele presidia a Empresa de Moradia, Urbanização e Saneamento de Niterói.

O petista Marcelo Arar aparece nos documentos do HSBC ligado a duas contas numeradas e abertas de forma conjunta com duas pessoas de mesmo sobrenome. Uma surgiu em 1990 e foi fechada em 1998. A outra foi criada em 23 de março de 1998 e permanecia ativa até 2006/2007, com um saldo de US$ 247.812. No ano seguinte, em 2008, Arar disputou o cargo de vereador no Rio pelo PSDB. Foi eleito segundo suplente. Na declaração de bens que entregou à Justiça Eleitoral não relatou conta na Suíça. Em 2012, Arar conseguiu uma cadeira na Câmara. Na segunda declaração ao TRE-RJ, também não fez menção a contas no exterior. Antes da política, Arar foi promotor de eventos e radialista.

Listado no ranking da revista “Forbes” como um dos bilionários brasileiros, Lirio Parisotto tem seu nome relacionado a cinco contas ativas no HSBC da Suíça nos anos de 2006 e 2007. Todas elas abertas entre 2001 a 2005. Os saldos depositados variam de US$ 1 mil a US$ 45 milhões.

Com uma fortuna estimada em US$ 1,6 bilhão, segundo a “Forbes”, o político é dono da Videolar (fábrica de materiais plásticos) e um dos principais investidores no mercado de ações no Brasil. Em 2010 foi eleito segundo suplente do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), atual ministro de Minas e Energia. No registro da candidatura, Parisotto não declarou contas na Suíça.

Como Eduardo Braga assumiu em janeiro o ministério, sua cadeira no Senado passou a ser ocupada pela primeira suplente e sua mulher, Sandra Braga. Parisotto só teria a vaga se ela também se licenciasse.

O presidente do Partido Trabalhista Cristão, Daniel Sampaio Tourinho, aparece nos arquivos do HSBC por um período curto: de 2 de março a 6 de novembro de 1992. Nesses nove meses, teve duas contas relacionadas ao seu nome, ambas zeradas em 2006/2007. Embora presida um partido pequeno (o PTC tem só 2 deputados e nenhum senador), ele tem participação ativa na política nacional. Em 2010, apoiou a campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT) e, em 2014, a de Aécio Neves (PSDB).

CONTAS DECLARADAS

Duas irmãs do deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) aparecem com quatro contas no HSBC, todas elas abertas em 1990 e 1996. Therezinha Maluf Chamma, que tem 86 anos, tinha em 2006/2007 saldos que variavam entre US$ 20 mil e US$ 1,7 milhão. Nelly Maluf, que morreu no ano passado, aos 89 anos, estava com saldo zerado.

As contas dos filhos do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), foram devidamente declaradas à Receita Federal, e a saída do dinheiro está informada ao Banco Central. Procurados pela reportagem, eles mostraram declarações de Imposto de Renda e documentos que comprovam o registro da saída dos recurso no Banco Central.

Citados nas planilhas negam irregularidades

RIO - Todos os políticos ou pessoas relacionadas a eles que foram localizadas pelo GLOBO e UOL negaram a posse das contas ou alguma irregularidade em suas movimentações financeiras.

O tucano Márcio Fortes confirmou os dados que aparecem registrados junto ao seu nome nas planilhas do HSBC. Fortes disse acreditar que as duas contas abertas em 1991, já encerradas, possam estar relacionadas a um trabalho que ele prestou para a organização WBSC (World Business Council for Sustainable Development), entidade sediada em Genebra. Ele diz que foi contratado para trabalhar nos preparativos da conferência Rio-92.

Indagado sobre a terceira conta relacionada a seu nome, aberta em 2003 e ainda ativa em 2006/2007, com saldo de US$ 2,4 milhões, Fortes afirmou desconhecê-la:

— Não declarei essas contas porque elas não são minhas. Sempre tive muito cuidado com as contas enviadas ao TSE. Minhas declarações de bens à Justiça Eleitoral devem estar certas.

Fortes afirmou que assinou muitos papéis como presidente da João Fortes Engenharia e que não se recorda de todos eles:

— Na minha vida de empresário, imagina a quantidade de papéis que assinei e não me recordo. Não por irresponsabilidade, mas porque você faz parte do estatuto da empresa e é sempre solicitado a assinar. Mas não me lembro de ter passado na minha frente qualquer coisa relacionada ao HSBC.

O ex-prefeito de Niterói Jorge Roberto Silveira foi contatado através do PDT do Rio, partido ao qual ainda é filiado. A assessoria da legenda não conseguiu localizá-lo. O advogado de Silveira, Murilo João do Nascimento Heusi, não quis comentar a presença do político nas planilhas do HSBC. José Roberto Mocarzel afirmou, por meio de seu advogado, Guilherme Valdetaro Mathias, que desconhece a existência de contas na filial suíça do banco.

Marcelo Arar, que aparece nas planilhas do HSBC com uma conta vinculada a outros membros de sua família, negou, por e-mail, ter recursos fora do país:

“Estou completamente surpreso e desconheço qualquer conta no exterior. Em 1990 (ano de abertura da primeira conta), eu tinha 15 anos de idade. Entrei para política em 2011, aos 36 anos”. Arar já havia sido candidato em 2008, mas não foi eleito, ficando apenas como suplente.

Lirio Parisotto informou, por meio de sua empresa, a Videolar, que já havia se manifestado, em fevereiro deste ano, sobre suas contas no HSBC da Suíça às revistas “Época” e “IstoÉ Dinheiro”. Naquela ocasião, ele disse que todos seus bens e valores haviam sido declarados à Receita Federal e ao Banco Central, mas não apresentou documento ao GLOBO.

— Fui eleito segundo suplente ao Senado em 2010. Não faço negócios com o governo. Nem eu e tampouco as empresas as quais controlo.

A reportagem tentou contatar Daniel Sampaio Tourinho, presidente do PTC, ligando para a sede nacional de seu partido. Ele não respondeu o e-mail enviado pelo GLOBO e UOL até a publicação desta reportagem.

Therezinha Maluf Chamma, de 86 anos, irmã de Paulo Maluf, afirmou que nunca teve e não tem dinheiro no HSBC da Suíça:

— Se tiver dinheiro lá, o senhor pode ficar com ele — afirou ela.

Therezinha ainda negou qualquer relação financeira com seu irmão:

— Sou parente de político, mas não falo com ele (Paulo Maluf) há mais de um ano. Não tenho negócios com ele.

Mais de 700 nomes de políticos foram checados

Nas últimas semanas, O GLOBO, em parceria com o UOL, cruzou a lista de congressistas do país com a dos 8.667 brasileiros que aparecem relacionados a contas numeradas do HSBC na Suíça em 2006/2007. Além dos atuais 513 deputados federais, 81 senadores titulares e 162 senadores suplentes, a reportagem checou se apareciam como correntistas em Genebra a presidente da República e todos seus antecessores, o atual vice-presidente da República e os integrantes das Assembleias Legislativas dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. No mesmo levantamento, foram verificados todos os integrantes das Câmaras de Vereadores das cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Rio. Nenhum deles apareceu na lista dos brasileiros com contas numeradas no HSBC da Suíça entre os 2006 e 2007. Nada impede, no entanto, que eles tenham mantido contas no exterior em outros bancos ou períodos.

De acordo com a legislação brasileira, enviar e manter dinheiro no exterior não é necessariamente um crime. Isso só acontece quando o contribuinte deixa de declarar à Receita Federal e ao Banco Central que mantém valores fora do país.

Desde 8 de fevereiro, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) publica reportagens com base nas planilhas vazadas do HSBC em 2008. No Brasil, a apuração é feita com exclusividade pelo GLOBO e pelo UOL, que, no trabalho, já localizaram pessoas que mantiveram valores na Suíça de forma legal, declarando-os.

http://oglobo.globo.com/brasil/politicos-de-cinco-partidos-na-lista-do-hsbc-15700236

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