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quarta-feira, 27 de março de 2024

Sputnik fala da indústria de submarinos do Brasil

 

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Lula: 'País do tamanho do Brasil precisa de Forças Armadas altamente qualificadas'

Submarino Tonelero (S42) é batizado pela primeira-dama, Janja da Silva, em 27 de março de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 27.03.2024

Em evento com o homólogo francês, Emmanuel Macron, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acompanhou nesta quarta-feira (27) o lançamento ao mar do submarino Tonelero, o terceiro construído através da parceria com a França. Na cerimônia, o submarino foi batizado pela primeira-dama, Janja da Silva, seguindo uma tradição da Marinha.
Com a expectativa de investimentos de mais de R$ 40 bilhões, em 2008, ao fim do segundo mandato do presidente Lula, o Brasil assinou um acordo histórico com a França para a transferência de tecnologia e parceria militar no âmbito do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), da Marinha do Brasil.
Além de quatro submarinos convencionais com propulsão diesel-elétrica, o projeto prevê o desenvolvimento do tão almejado submarino nuclear.
Até o momento, já foram viabilizados três submarinos, entre eles dois construídos integralmente no Brasil. O último foi lançado ao mar nesta quarta, no Complexo Naval de Itaguaí, no litoral sul do Rio de Janeiro, em evento que contou com a presença de autoridades brasileiras e francesas, além dos presidentes Lula e Macron. O submarino Tonelero (S42) deve ser entregue à força para proteção do extenso litoral brasileiro no próximo ano.
Com 71,6 metros de comprimento e 6,2 metros de diâmetro, o equipamento militar tem capacidade para uma tripulação de 35 pessoas. Além disso, atinge profundidade de 250 metros e pode alcançar até 70 dias de operação. O programa da Marinha ainda coloca o Brasil como único país da América do Sul capaz de produzir um submarino em território nacional.
Na cerimônia, o presidente Lula ressaltou a importância dos investimentos na defesa nacional. "Um país do tamanho do Brasil precisa ter Forças Armadas altamente qualificadas e altamente preparadas, a ponto de dar resposta e de garantir a paz quando o nosso país precisar", disse.
Além disso, Lula enfatizou que a parceria com a França reforça a determinação brasileira em "conquistar maior autonomia estratégica, essencial diante das múltiplas crises e desafios com os quais a humanidade se depara neste século".
Diferentemente de outras situações, em que citou a guerra contra os palestinos na Faixa de Gaza e inclusive acusou Israel de genocídio, junto a Macron o presidente brasileiro não fez menção a nenhum conflito.
O petista ainda lembrou das dimensões continentais do país, com mais de 16 mil quilômetros de fronteiras terrestres e uma costa litorânea de 8,5 mil quilômetros.
"Somos um Brasil que faz fronteira com todo o continente africano, porque aqui nós tratamos o oceano Atlântico como se fosse um rio Atlântico, porque nós fazemos fronteira com todo o continente africano. E nós temos que nos preocupar com a nossa defesa, não porque nós queremos guerra — a defesa para quem quer paz, a defesa para quem mora em um continente que já definiu, em todas as reuniões da CELAC [Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos], que nós vamos continuar na América Latina e na América do Sul sendo uma zona de paz", afirmou.

Lula a Macron: 'Temos que aproveitar essa amizade'

Diante das relações diplomáticas históricas com a França, o presidente Lula defendeu o fortalecimento das parcerias entre os dois países nas mais diversas áreas. "Eu quero, presidente Macron, dizer para você que saia do Brasil sabendo que o povo brasileiro gosta do povo francês. E eu tenho certeza que o povo francês gosta do povo brasileiro. Nós temos que aproveitar essa amizade, esse entendimento, para que a gente possa fortalecer os dois países, para que a gente possa trocar os nossos conhecimentos científicos e tecnológicos, para que a gente possa produzir uma inteligência artificial do bem e não uma inteligência artificial do mal", alegou.
A agenda do presidente francês no Brasil segue até amanhã (28), quando há a expectativa da assinatura de um número histórico de acordos de cooperação entre as duas nações. Nesta tarde, Lula e Macron ainda participam de evento empresarial em São Paulo.

Submarino nuclear brasileiro, ambição que surgiu em 2008

Já o presidente Emmanuel Macron, durante discurso de quase dez minutos, comentou a parceria estratégica com a França viabilizada há 16 anos.
Ele se referiu ao projeto do submarino nuclear brasileiro, que está previsto no Prosub. Este, por sua vez, já entregou dois dos quatro modelos de propulsão convencional baseados no modelo francês Scorpène. Outra embarcação mais recente, o Humaitá, entrou em operação em janeiro.
"A determinação de um homem que soube marcar o rumo de uma ambição que em 2008 podia parecer desmedida, mas a França acreditou, a França aderiu e a França entrou nessa aventura ao lado de vocês [Brasil] com todas as suas competências, a capacidade de sua indústria, de seus industriais, de sua marinha, e junto com a Marinha brasileira, com a indústria brasileira, nós conseguimos construir. Hoje posso dizer que vocês tinham razão de acreditar e nós tivemos razão de apoiar vocês."

Macron ainda classificou como "titanesca" todas as obras e intervenções realizadas pelo Brasil para viabilizar o desenvolvimento dos submarinos, como o complexo em Itaguaí, o mais moderno do país.

"Esta obra titanesca mobilizou todas as forças vivas. Engenheiros e operários trabalharam para chegar a este êxito, e essa parceria representa para a França uma transferência inigualada de tecnologias. Jamais compartilhamos tanto o nosso know-how com o Brasil e temos orgulho de tê-lo feito", disse.
Os presidentes brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e francês, Emmanuel Macron, na cerimônia de inauguração do submarino S42 (Tonelero) - Sputnik Brasil, 1920, 27.03.2024
Lula e Macron na cerimônia de inauguração do submarino S42 (Tonelero)

Macron diz que França é 'potência amazônica'

Por conta da Guiana Francesa, região ultramarina da França em plena América do Sul, o presidente Emmanuel Macron disse que o destino das duas nações também é unido pela geografia. "A França é o único país europeu a ser também uma potência amazônica, temos 730 quilômetros comuns, são aéreas vizinhas e somos obrigados a compartilhar esses desafios."
"Nós vamos lutar contra os tráficos ilegais na terra, no mar, porque são um desafio para a natureza; os nossos valores, o nosso futuro, a Amazônia, onde estávamos ontem, as nossas zonas econômicas exclusivas, onde nós deveríamos proteger os nossos pescadores, vocês devem proteger as suas extrações de petróleo e de gás", argumentou.
Por fim, o presidente francês declarou que entre "os grandes teatros de conflito deste novo século", o mar certamente será palco de muitos deles. "Nós rejeitamos o mundo que seja prisioneiro da conflitualidade entre duas grandes potências. Nós temos a independência das grandes diplomacias, das grandes forças armadas. Nós queremos defender nossa independência e nossa soberania e, junto com isso, defendemos o respeito pelo direito internacional em todo o mundo. Nós acreditamos na dignidade humana porque ela é constitutiva das nossas ordens políticas e constitucionais”, garantiu durante seu discurso.
Submarino Riachuelo, o primeiro do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), que prevê a produção de cinco navios do tipo, entre eles, o primeiro submarino brasileiro convencionalmente armado com propulsão nuclear - Sputnik Brasil, 1920, 18.01.2024
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Submarino essencial para colocar a Marinha brasileira entre um seleto grupo, o equipamento de propulsão nuclear é alvo de pesquisas no Brasil desde o fim da década de 1970. Por conta da possibilidade de ficar submerso por meses no oceano e também proporcionar velocidades maiores, é considerado ideal para a defesa do extenso território marítimo do Brasil. A expectativa é que o primeiro modelo, também desenvolvido em parceria com a França, esteja em funcionamento em 2033.
O comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, ressaltou a importância do acordo para finalmente viabilizar o projeto, que já enfrentou diversas resistências externas.
"Em constante evolução, o pilar fundamental foi concebido com uma robusta estrutura industrial composta por equipamentos e mão de obra altamente especializada, imprescindível para auferir a integração e manutenção de diversificados meios navais, bem como atender o rigoroso processo de licenciamento que garante a segurança e o prosseguimento do programa nuclear da Marinha."

"Iniciado em 1979, […] foi desenvolvido em virtude da premente necessidade estratégica de dotar submarinos com propulsão nuclear. Delimitados os objetivos, o projeto desdobrou-se em duas vertentes fundamentais, o consagrado domínio do ciclo do combustível nuclear e o desenvolvimento autóctone de uma planta nuclear de produção naval", finalizou.

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Fonte:  https://sputniknewsbr.com.br/20240327/lula-pais-do-tamanho-do-brasil-precisa-de-forcas-armadas-altamente-qualificadas-videos-fotos-33786209.html

terça-feira, 26 de março de 2024

Sputnik fala das parcerias que estão sendo construídas entre o Brasil e Índia

 

Do agro ao nuclear: Brasil e Índia iniciam nova etapa estratégica em suas relações

Lula e Narendra Modi, Nova Deli, Índia, 9 de setembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 25.03.2024

Reuniões realizadas neste mês de março apontam para uma maior aproximação entre o Brasil e a Índia, dois países que dentro da geopolítica mundial, tem muito a se beneficiar da cooperação estratégica, desde o setor agropecuário ao aeroespacial e nuclear, afirmam analistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Para começar, nos dias 14 e 15 de março a Índia sediou em Nova Deli um encontro 2+2, em que se reuniram equipes do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Defesa de ambos os países.
Do lado brasileiro estiveram presentes Marcelo Câmara, diretor do departamento de Assuntos Estratégicos, Defesa e Desarmamento do Ministério das Relações Exteriores, o contra-almirante da Marinha Luca Marques de Oliveira, e o general de brigada do Exército Marcelo Rocha Lima, além de outras autoridades.
Já nesta segunda-feira (25), o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Defesa, José Múcio, e o ministro da Economia, Fernando Haddad, se encontraram com o empresário Natarajan Chandrasekaran, presidente do conselho administrativo da Tata Sons, holding de investimentos a qual pertence o maior conglomerado da Índia, Tata.
Juntas, a empresas do conglomerado possuem um valor de mercado de R$ 2 trilhões e estão presentes em 150 países em áreas que vão desde infraestrutura elétrica, hoteleira, telecomunicações, aeroespacial e siderurgia.
O megaempresário, convidado ao país pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), também visitará as dependências da Embraer e comparecerá a um evento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Eleitora tem o dedo pintado com tinta que permanece no corpo por, pelo menos, sete dias durante processo na Índia. Gauhati, 23 de abril de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 29.01.2024
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Ambos os países estariam dentro da chamada "corrente meridionalista", pensamento geopolítico desenvolvido por André Marin, afirmou Vitor de Pieri, professor do Instituto de Geografia (Igeog) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). "São países que possuem perspectivas similares em relação ao mundo, fora do eixo de conflitivo entre o Ocidente, a Rússia e a China."

"A Índia tem interesses comuns com o Brasil, como fazer parte do Conselho de Segurança da ONU [CSNU]."

Nesse sentido, destaca João Paulo Nicolini, doutor em ciência política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Católica de Louvain, os dois fazem parte do G4, "um grupo informal junto com a Alemanha e Japão para reformar o CSNU".

O Brasil e a Índia ainda prezam por uma política externa independente, "o que Celso Amorim gosta de chamar de uma política externa ativa e altiva", lembrou de Pieri, "que prioriza a diversificação de parcerias em especial com o Sul Global (...). Hoje PIB do BRICS expandido já é maior do que do G7", afirmou o geógrafo.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Sessão I do Diálogo de Amigos do BRICS, em 24 de agosto de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 10.01.2024
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O início da aproximação entre Brasil e Índia ocorreu durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso, destacou Nicolino, mas foi na era Lula onde houve maior convergência entre as duas nações, muito em parte pela formação do, na época, BRIC (sem o ingresso da África do Sul, portanto).
Desde 2003 há acordos e memorando em diversas áreas estratégicas, desde cooperações em matérias criminais, desenvolvimento e uso pacífico da energia nuclear, aviação civil e desenvolvimento agropecuário.
Apesar de divergências dentro da Organização Mundial do Comércio, devido ao seu setor agrícola "protecionista" — enquanto o Brasil é um país exportador —, os dois países conseguem trabalhar junto no desenvolvimento de "melhorias genéticas das raças zebu e de leguminosas" através da Embrapa, afirmou.
De maneira mais célebre, a Índia e o Brasil têm uma forte cooperação no setor da saúde, ressaltou o cientista político. Junto da África do Sul, as nações "peitaram as grandes empresas apoiadas pelas potências ocidentais e conseguiram quebrar a patente do coquetel da AIDS e baratear o tratamento".

Índia pode ajudar no desenvolvimento de submarinos

Em termos de Defesa, descreve José Augusto Zague, pesquisador do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional da Universidade Estadual Paulista (Gedes-Unesp) e do Programa de Ações Estratégicas Transversais de Autonomia Estratégica e Tecnologia de Defesa (PAET-D), a Índia é "bastante pragmática".
"Eles têm uma cooperação tanto com a Rússia, tanto quanto países ocidentais, como a França e os Estados Unidos", afirmou.
Em seu inventário de aeronaves de combate, descreveu Zague, há aeronaves dos três países.
O Brasil e a Índia possuem conhecimentos complementares na produção e no desenvolvimento de armamentos. Dessa forma, o encontro 2+2, que tem como foco a cooperação nestas áreas, e como a Estratégia Nacional de Defesa do Brasil prioriza a transferência de tecnologias, a oportunidade parcerias é "bastante promissora".
"É o caso das vendas que a Embraer tem feito para a Índia", afirmou. Montado sobre a plataforma do Embraer 145, a empresa de aviação brasileira já vendeu três unidades de um avião de alerta antecipado de uso militar e, agora, negocia a venda de mais seis.

"E o Brasil tem interesse em adquirir da Índia obuseiros e mísseis, tecnologias que o Brasil sempre teve deficiência."

 A Índia, afirma Zague, "tem uma tecnologia militar muito avançada em vários setores", estando na vanguarda, por exemplo, na produção de foguetes e satélites, com um programa espacial "muito avançado".

"O programa espacial é tão importante na Índia que na Índia a astronomia é matéria para as crianças na escola", destacou Nicolini.

Índia possui seu próprio submarino nuclear

Um ponto discutido no encontro 2+2 foi o auxílio da Índia ao Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) da Marinha do Brasil. A Índia é um dos poucos países que conseguiu desenvolver seus próprios submarino nucleares, o Arihant e o Arighat.
A Índia, destaca Zague, domina todas as etapas de desenvolvimento do submarino e pode ser uma parceria em potencial, mas o mais provável é que essa expertise seja usada "para alguns outros projetos no futuro".
No entanto, para os analistas, é possível que haja uma colaboração "tímida" com a Índia no âmbito do submarino nuclear, uma vez que a França é a grande parceria do Brasil nesse projeto.
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Segundo Nicolino, a Índia entrará como grande parceira na manutenção dos submarinos. "A Índia ofereceria revisão de baixo custo, muito mais baixo", disse.
O especialista destaca, contudo, que há grande potencial de colaboração entre os países na área nuclear. "Os dois países têm as maiores reservas de tório do mundo", disse.
O tório é um mineral ligeiramente radioativo, concorrente ao urânio na geração de energia nuclear.
Encontrado em "regiões de rochas monazíticas, como Guarapari, Cumuruxatiba, Prado... sul da Bahia", o tório, quando sintetizado em urânio 233 e utilizado para a geração de energia nuclear.
Mais eficientes e mais limpos que seu rival, a Índia é a grande potência nas pesquisas com o tório, abandonadas por outros países ocidentais, destacou Nicolino. Dessa forma, as parcerias e trocas de pesquisas podem elevar o potencial nuclear brasileiro.
Telúrio refinado é exibido na refinaria Kennecott Utah Copper. Magna, Utah, 11 de maio de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 24.01.2024
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Em resumo, diz Zague, a parceria com a Índia é "fundamental" para a Base Industrial de Defesa do Brasil. Não só o país sul-asiático possui um grande orçamento de Defesa como ambas as indústrias são compatíveis uma com a outra, e o projeto atua como um modelo de "difusão da tecnologia militar globalizada, em que os países dividem a produção de um determinado armamento".
Com o conflito da Ucrânia, está ficando evidente que "esse modelo de difusão da tecnologia militar globalizada, concentrado em grandes conglomerados, pulverizado em muitos países e em cadeia de suprimentos pulverizadas, não está dando a resposta que o Ocidente imaginava que fosse possível".
A Rússia, exemplo de autonomia e autossuficiência, está conseguindo "repor os seus estoques de armamentos".
"A Rússia é autônoma, ela não participa desse modelo de fusão da tecnologia militar globalizada. Ela produz autonomamente praticamente todos os seus sistemas de armas", afirmou.
Ao buscar a autossuficiência, modelo militar também seguido pela China, o Brasil e a Índia podem fazer emergir um "novo cenário para esse sistema de produção mundial", argumentou Zague.


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Fonte:  https://sputniknewsbr.com.br/20240325/do-agro-ao-nuclear-brasil-e-india-iniciam-nova-etapa-estrategica-em-suas-relacoes-33756877.html

O mundo mais uma vez testemunhou o inabalado apoio da população do país ao presidente Vladimir Putin

 

Putin: um amálgama de diferentes eras

© Sputnik / Sergei Guneev


Após o resultado das últimas eleições na Rússia, o mundo mais uma vez testemunhou o inabalado apoio da população do país ao presidente Vladimir Putin. Seguindo agora para o quinto mandato como chefe de Estado, Putin foi o principal responsável pelo resgate do prestígio de Moscou nas relações internacionais.

É possível dizer que desde que Putin chegou ao poder pela primeira vez em 2000, a Rússia se apresentou como uma verdadeira "amálgama de diferentes eras", resgatando alguns elementos importantes de seu passado. Ora, existe um ponto em que a experiência dos Estados pode realmente ser comparável à experiência de um indivíduo, e isso se dá no modo como ambos interpretam e utilizam o seu passado como forma de moldar atitudes e identidades no presente. De seu passado, a Rússia extraiu lições fundamentais, a fim de lidar com a complexa realidade internacional multipolar de nossos tempos.

Não somente isso. Com Putin à frente do poder, as impressões de um país abatido, pobre e enfraquecido pelas transformações econômicas e sociais dos anos 1990 deram lugar a novos movimentos de consciência e de renovação dentro da Rússia, incluindo uma verdadeira redefinição de sua identidade nacional. No mais, a era Putin demonstrou não somente a importância do papel do indivíduo para as grandes transformações históricas, como também a importância do resgate de elementos do passado como norteador do desenvolvimento social. A Rússia de Putin, assim como no período soviético, tornou-se um país que não mais aceitava uma posição subordinada no sistema internacional e que brigaria por afirmar sua posição de "Grande Potência" no sistema, papel que desempenhou desde o período czarista de sua história.

No começo de seu primeiro mandato em 2000, ao lidar de forma dura e eficiente com as tendências separatistas existentes no país e se aproveitando de condições econômicas favoráveis, Putin foi capaz de manter a integridade territorial da Rússia e de devolver a dignidade à sua população. Ao final de seu segundo mandato, Putin então começou a subir o tom em seus discursos internacionais contra as injustiças da hegemonia americana, defendendo a consolidação de um mundo "multipolar" mais justo e livre dos ditames de Washington. Já a partir de 2012 — no início de seu terceiro mandato —, Putin começou a acentuar as diferenças culturais, políticas e civilizacionais entre a Rússia e o Ocidente, apregoando o respeito às múltiplas tradições nacionais e religiosas existentes no mundo. Não à toa, a Rússia de Putin demonstrou maior sinergia entre o Estado e a Igreja Ortodoxa, um dos pilares da civilização russa desde os primórdios de sua formação.

Nos Estados Unidos, por outro lado, a Rússia novamente figurava como uma ameaça aos valores e aos interesses americanos, com acusações de que o "regime autoritário de Putin" representava um obstáculo à expansão das chamadas "democracias liberais" à guisa do modelo ocidental pretensamente universalizante. Levantava-se então aquela velha dicotomia típica da Guerra Fria, que serve apenas para angariar o suporte das audiências ocidentais para projetos como a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para o leste, uma clara demonstração da continuada política de contenção ao poderio russo. Não agrada aos formuladores de políticas, seja na Europa, seja nos Estados Unidos, que a Rússia se consolide como "Estado forte", lastreado por seu poderio militar e por suas enormes potencialidades humanas e de recursos naturais.

Ao mesmo tempo, ao longo dos anos 2000, a figura de Putin no exterior passou a ser identificada com a da própria Rússia, com ambos passando a ser cada vez mais reconhecidos e respeitados no cenário internacional, apesar das frequentes campanhas de propaganda do Ocidente no sentido de manchar a imagem do presidente russo. Sem atentar para essas campanhas de difamação, a era Putin se caracterizou pela defesa da Rússia de seus interesses nacionais e regionais de segurança, à guisa do período soviético e imperial. Ora, tanto para Putin como para a população russa, o processo de expansão da OTAN para o leste no contexto do pós-Guerra Fria constituiu uma ameaça grave à segurança do país e uma provocação dirigida a minar a influência de Moscou no espaço pós-soviético. Afinal, precisamos lembrar que a Rússia historicamente sofreu com invasões a partir do Ocidente e, portanto, não poderia olhar com indiferença os movimentos da OTAN em direção a suas fronteiras. Como consequência — em parte — dessa interpretação, foi que Moscou empreendeu sua operação militar especial na Ucrânia em 2022.

Diante desse contexto, o quinto mandato de Putin começa justamente com as tropas russas defendendo os novos territórios do país e com o fracasso dos esforços ocidentais de tentar derrotar a Rússia no campo de batalha. Por certo, de muito tempo que o conflito no Leste Europeu tem sido não entre a Rússia e a Ucrânia, mas sim de todo o Ocidente coletivo contra os russos, seja por ações militares, seja pelas sanções. Ilusoriamente, no entanto, os Estados Unidos e a União Europeia continuam a prometer a suas populações que o fornecimento de armas, equipamentos e apoio financeiro à Ucrânia se justifica pela necessidade de deter a Rússia a todo o custo. Caso contrário, Moscou poderia avançar pelo continente. Trata-se de uma completa loucura, usada pelos líderes europeus e americanos apenas para disfarçar sua miopia política e esconder do público o fracasso de seu projeto geopolítico de derrubar a Rússia.

Seja como for, ao iniciar o quinto mandato como presidente do país, Putin e sua administração se mostraram capazes de resistir à chantagem ocidental, do mesmo modo como a Rússia e sua população conseguiram resistir às sanções econômicas. Para os anos seguintes, independentemente de qualquer torcida em contrário, as ações da Rússia tanto no âmbito doméstico como externo continuarão a definir os contornos da geopolítica internacional. Em suma, assim como em séculos passados, com Putin novamente à frente da presidência — dessa vez até 2030 —, a Rússia persistirá exercendo um papel de relevância no cenário mundial. Para além disso, esse país, que se tornou uma verdadeira "amálgama de diferentes eras", certamente extrairá quaisquer lições que forem necessárias para a construção das bases de um futuro justo e digno.

As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.

Fonte:  https://telegra.ph/Putin-um-am%C3%A1lgama-de-diferentes-eras-03-20

domingo, 24 de março de 2024

Senadores não representam os Estados e sim as suas famílias


De pai para filho: homens e herdeiros políticos são maioria no Senado

Casa política completa 200 anos no dia 25 de março

Publicado em 24/03/2024 - 10:02 Por Lucas Pordeus León - Repórter da Agência Brasil - Brasília

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O Senado Federal completa 200 anos nesta segunda-feira (25), com predominância de parlamentares homens e herdeiros políticos. Desde a redemocratização até a última eleição, cerca de dois em cada três senadores eleitos vieram de famílias políticas. Além disso, nove de cada dez eleitos são homens. Apenas quatro mulheres negras foram eleitas para o Senado entre 1986 e 2022.

Dos 407 mandatos disputados nesse período, 274 deles, o equivalente a 67% dos cargos, foram ocupados por pessoas com vínculos familiares com políticos já eleitos. Com isso, os senadores acabam herdando o capital político da família e se elegem apoiados pelo sobrenome. Esse levantamento é parte da pesquisa do cientista político Robson Carvalho, doutorando da Universidade de Brasília (UnB).

“O que a gente tem na prática é que, muitas vezes, a condução das instituições públicas é tratada como se fossem capitanias hereditárias, distribuídas e loteadas para quem apoia aqueles grupos político-familiares e também tratam os gabinetes como se fossem a cozinha de suas casas”, destacou o especialista.

Além disso, das 407 vagas disputadas, 363 foram ocupadas por homens, o que representa 89% dos mandatos disputados nas urnas. Apenas 44 vagas foram ocupadas por mulheres. Já as mulheres negras foram apenas quatro: Marina Silva, eleita duas vezes pelo PT do Acre, Benedita da Silva (PT-RJ), Eliziane Gama (PSD-MA) e Fátima Cleide (PT/RO).

“São resultados indicativos da reprodução das desigualdades políticas e prejuízos ao recrutamento institucional, à igualdade de disputa, à representação de gênero e raça; à edificação de uma democracia plural”, conclui o artigo do especialista, que foi apresentado no 21º Congresso Brasileiro de Sociologia, em julho de 2023. 

Para Robson Carvalho, a pesquisa mostra que o Senado é majoritariamente ocupado por famílias poderosas. “Parecem suceder a si mesmas, como numa monarquia, onde o poder é transmitido por hereditariedade e consanguinidade”. Segundo o analista, isso traz prejuízos à representação democrática do povo brasileiro.  

“Grupos que lá também poderiam estar representados: mulheres, negros, quilombolas, indígenas, indivíduos de origem popular, de movimentos sociais, dentre outros. Isto ocorre em detrimento do acesso, quase que exclusivo, de homens brancos, empresários, originários de estratos superiores da pirâmide econômico-social e de famílias políticas”, afirma o artigo.

Segundo o cientista político Robson Carvalho, o fenômeno do familismo "está presente nos mais diversos partidos de todos o espectro político, da direita à esquerda", mas nem por isso deve ser naturalizado.

Entre os políticos que estiveram no Senado entre 1986 e 2022 com ajuda da herança política estão Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro; Lobão Filho (MDB-MA), filho do ex-senador Edison Lobão; Renan Filho (MDB-AL), filho do atual senador Renan Calheiros; Ronaldo Caiado (União-GO), neto de Antônio Totó Ramos Caiado, ex-senador por Goiás na década de 1920; e Rogério Marinho (PL-RN), neto do ex-deputado federal Djalma Marinho.

Outros parlamentares que entraram Senado no período e são de famílias de políticos eleitos são Flávio Dino (PSB-MA), Roberto Requião (MDB-PR), Flávio Arns (PSB-PR), Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), Romeu Tuma (PL-SP), Espiridião Amim (PP-SC), Jorginho Mello (PL-SC), Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), Otto Alencar (PSD-BA) e Davi Alcolumbre (União-AP).  

Todas as regiões

A pesquisa destaca que a herança política é uma realidade de todos os estados e de todas as regiões do país. “Não é uma característica só do Nordeste, como muita gente acha, ligada ao coronelismo lá na região”, destacou o doutorando.

No estado de São Paulo, por exemplo, dos 15 mandatos disputados para o Senado entre 1986 até 2022, nove foram de pessoas identificadas como de famílias-políticas. Mesmo número do Rio de Janeiro, o que representa 60% do total de mandatos disputados na urna.

No Paraná, 13 dos 15 senadores eleitos no período são de famílias políticas. O Rio Grande do Sul tem o menor percentual de eleitos com ajuda do capital político da família. Apenas 4 dos 15 mandatos foram ocupados com a ajuda da herança política das famílias no estado gaúcho, o que representa 26% do total. Dois estados aparecem com 100% de eleitos com vínculos político-familiares: Paraíba e Piauí.

Robson Carvalho destacou ainda que o fato de nascer em famílias com grande capital político já constitui uma vantagem, “tendo em vista a herança simbólica, o acesso a diversos capitais, que vão sendo construídos desde a infância, no espaço em que o agente se encontra posicionado”.

Mulheres

Outro recorte da pesquisa é o de gênero, que mostra que o Senado foi, e ainda é, dominado por homens, que ocuparam 89% dos cargos disputados entre 1986 e 2022. Os estados do Amapá e Piauí, por exemplo, nunca elegeram uma senadora. Quem mais elegeu mulheres foram Mato Grosso do Sul (MS), com quatro mandatos: Marisa Serrano (PSDB), Simone Tebet (MDB), Tereza Cristina (PP) e Soraya Thronicke (Podemos), sendo que apenas a última não possui vínculos político-familiares, de acordo com a pesquisa.

Os estados de Sergipe (SE) e do Rio Grande do Norte (RN) elegeram mulheres três vezes. No caso de Sergipe, foram três vezes a mesma mulher: Maria do Carmo Alves (DEM), marcada pela presença de capital político-familiar.

O Rio Grande do Norte elegeu três mulheres, duas com capital político-familiar, Rosalba Ciarlini (DEM) e Zenaide Maia (PROS) “respectivamente membro de longevas e entrelaçadas famílias políticas (Rosado e Maia) e Fátima Bezerra do PT, professora, de origem popular e sem conexões com famílias políticas”.

“Considerando os dados por região, o Nordeste elegeu mais mulheres por mandato, chegando a 13, seguido das regiões: Norte, com 12; Centro-Oeste, com 10; Sudeste com 5; e, por último, a região Sul, elegendo apenas quatro mulheres”, acrescenta o estudo.

Robson Carvalho conclui que essa realidade enfraquece a democracia brasileira. “Como é possível pensar em República sem representação de negros e mulheres que são a maioria da população, de índios que são os povos originários da nação e de cidadãos de origem popular que são a grande maioria dos brasileiros?”, questiona.

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Edição: Sabrina Craide 

Fonte:  https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2024-03/de-pai-para-filho-homens-e-herdeiros-politicos-sao-maioria-no-senado

sábado, 23 de março de 2024

Por democracia e sem anistia

 

'Por democracia e sem anistia': atos no Brasil e no exterior cobram punição a golpistas e lembram 60 anos do golpe militar

Manifestações também denunciam massacre do povo palestino praticado por Israel

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Em Curitiba, manifestantes são contra anistia para os golpistas do oito de Janeiro - Gibran Mendes / CUT-PR

Movimentos populares realizam, neste sábado (23), uma série de manifestações em todo Brasil contra a anistia aos golpistas envolvidos nos atos do 8 de janeiro, em Brasília

Todas as regiões do país tiveram mobilizações convocadas pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, sindicatos e partidos do campo progressista. Pela manhã, houve ações em Maceió (AL), Vitória (ES), Campo Grande (MS), Belém (PA), Aracaju (SE) Recife (PE), São Luís (MA), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Goiânia (GO) e Lisboa, em Portugal. Em outras capitais, como São Paulo (SP), Porto Alegre (RS) e Salvador (BA), as manifestações ocorreram nesta tarde. 

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Os manifestantes saíram às ruas para cobrar punição aos envolvidos nos atos golpistas e afirmar que será um erro histórico do país perdoar os crimes contra o Estado praticados pelos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Além disso, os atos lembraram os 60 anos do golpe militar de 1964, com as palavras de ordem "Ditadura nunca mais" e denunciaram o genocídio contra o povo palestino praticado por Israel


No Ceará, manifestantes saem às ruas em defesa da democracia / Thainá Duete - Comunicação da CUT/CE


"Lutar por democracia é lutar por memória, verdade e justiça. Nós, dos movimentos populares, demarcamos essa compreensão histórica do nosso país, ainda que tenhamos limitações institucionais. Para rememorar os tristes dias de Ditadura Militar, nós estamos nas ruas", afirmou Elisa Maria, integrante do Movimento Brasil Popular, no Recife. 

Na capital pernambucana, o ato se concentrou na praça do Derby e também contou com manifestações por pedido de paz na Palestina. 


Ato em Recife, Pernambuco, na Praça do Derby / Elisa Maria

No Maranhão, os manifestantes se reuniram em uma plenária do Solar Maria Firmina, em São Luís, onde trataram sobre a defesa da democracia e as punições aos golpistas.


Plenária em São Luís reuniu organizações do campo e da cidade / Elitiel Guedes

Em Goiânia, a mobilização aconteceu na sexta-feira (22), organizada pelo Fórum Goiano em defesa da Democracia, Direitos e da Soberania. A mobilização também foi por memória e justiça para as vítimas do regime militar e contra a viagem do governador do estado, Ronaldo Caiado, a Israel. Além disso, os manifestantes pautaram a luta contra as privatizações. 

Em Porto Alegre (RS), movimentos populares realizaram ato no Largo Glênio Peres para reforçar a importância da defesa da democracia. A manifestação ocorre às vésperas dos 60 anos do golpe que deu início à ditadura militar no país, em 1964, e lembrou das 434 mortes confirmadas nas mãos do regime e milhares de casos de tortura. Participantes do protesto também repudiaram uma eventual anistia aos golpistas de 8 de janeiro de 2023.


Ato em defesa da democracia em Porto Alegre (RS) ocorreu no Largo Glênio Peres / Jorge Leão

Mesmo sob chuva, os movimentos populares saíram às ruas, neste sábado (23), em São Paulo, para dizer "Ditadura nunca mais" e pedir punição aos golpistas do 8 de janeiro de 2023. O ato reuniu cerca de cinco mil pessoas no Largo São Francisco. 


Ato em São Paulo reúne manifestantes no Largo de São Francisco / Junior Lima @xuniorl

Na manifestação em Salvador (BA), a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffman defendeu que golpistas de 8 de janeiro precisam 'pagar por seus crimes'. "Nós temos o devido processo legal para que ele seja o berço das investigações. Isso que a gente quer. Independente de quem for. Se é militar, civil, se foi presidente da República, se é deputado, se é parlamentar", argumentou.

"Bolsonaro não pode ir para a rua querer a conciliação do Brasil quando ele atentou contra isso e contra a estabilidade das instituições brasileiras e de toda a política que tínhamos de construção do país", acrescentou a deputada.

No exterior

Na manhã deste sábado(23), também foram registradas atividades na Praça Luís de Camões, em Lisboa. A atividade foi organizada pelas seguintes organizações brasileiras: Núcleo do PT em Portugal, PCdoB, Comitê Popular de Mulheres em Portugal, Comitê Popular de Estudantes Brasileiros em Portugal, Comitê de Luta Portugal, Portuando - Associação de Apoio aos Brasileiros em Situação de Imigração e Coletivo Pau Brasil. 

 


Em Lisboa, manifestação ecoa o pedido de paz na Palestina / @maurilioaraujophotography

Também participaram do ato integrantes do movimento Argentina No Se Vende - Asamblea Portugal,  que estão em luta contra as ações do governo de Javier Milei.

"Não vamos aceitar pedido de anistia"

Em entrevista ao Brasil de Fato, no último dia 12, João Paulo Rodrigues, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), afirmou que considera um absurdo conceder anistia aos golpistas do oito de janeiro. 

"Nós, da esquerda brasileira, não vamos aceitar esse pedido de anistia. É um absurdo, porque os crimes que eles cometeram, quando estavam no governo, tanto quanto já estavam fora, foram gravíssimos, do ponto de vista jurídico e político. Por isso, a nossa luta, no Congresso Nacional e na imprensa, é para que não se aceite essa barbárie. Por isso, a nossa luta é "não" a anistia. Pelo contrário, que a justiça alcance eles", explicou. 
 


Em Belo Horizonte, ato relembra as vítimas do golpe militar de 1964 / Coletivo de Comunicação do @ptbhoficial


Rud Rafael, da coordenação nacional da Frente Povo Sem Medo, também critica o fato de o ex-presidente Jair Bolsonaro tentar apelar para o perdão, diante dos prováveis crimes cometidos por ele e seu grupo político. 

"É um absurdo que agora Bolsonaro queira aparecer de vítima, alguém que de alguma forma fez de tudo para criar um clima de guerra na sociedade brasileira, colocou em xeque o sistema político brasileiro. Seu discurso impulsionou várias ocupações na frente dos quarteis. O que aconteceu no 8 de janeiro é amplamente repudiado pela sociedade brasileira e isso não pode ficar impune".

Em fevereiro, durante ato na Avenida Paulista, Bolsonaro mudou o tom do discurso e adotou uma postura menos agressiva contra as instituições, ao contrário do que ele exibia durante o governo. No palco, pediu para "passar uma borracha" nos atos do passado e perdão aos envolvidos nas manifestações golpistas. 

"Teria muito a falar, tem gente que sabe que eu falaria. O que eu busco é a pacificação, é passar uma borracha no passado. É buscar maneira de vivermos em paz, não continuarmos sobressaltados. É, por parte do parlamento brasileiro, uma anistia para os pobres coitados que estão presos em Brasília. Não queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos", discursou o ex-presidente. 

 

Edição: Geisa Marques

Fonte:  https://www.brasildefato.com.br/2024/03/23/por-democracia-e-sem-anistia-atos-no-brasil-e-no-exterior-cobram-punicao-a-golpistas-e-lembram-60-anos-do-golpe-militar

O povo não esquece que a ditadura foi real e não podemos deixar que isso se repita

 

Ativistas promovem atos em defesa da democracia brasileira

Participantes chamam a atenção para crise no Oriente Médio

Publicado em 23/03/2024 - 17:42 Por Luciano Nascimento - Repórter da Agência Brasil - São Luís

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Movimentos sociais, estudantes, sindicalistas e ativistas ocuparam as ruas de várias cidades do país neste sábado (23) para realizar ato em defesa da democracia, do direito à memória e justiça e contra o golpismo.

As manifestações ocorreram faltando pouco mais de uma semana do aniversário de 60 anos do golpe civil-militar de 1964, no dia 31 de março. Hoje, os manifestantes ressaltaram a importância de não deixar cair no esquecimento os chamados anos de chumbo, período da ditadura de 1964 a 1985.

Em São Luís, no Maranhão, a manifestação foi marcada para às 9h, na praça Deodoro, no centro da cidade. Na sequência, os participantes realizaram uma assembleia popular onde reforçaram a importância de se punir os participantes e organizadores dos atos golpistas do 8 de janeiro de 2023. Eles criticaram ainda a decisão do governo de não promover ações sobre o período da ditadura.

“Esse ato simboliza a necessidade, que é uma necessidade contínua do não esquecimento, sobretudo, do golpe de 64. Há uma determinação ou uma orientação do atual comando político do país, do próprio governo Lula, de não se fazer um ato referido ao tema. Mas nós, enquanto sociedade civil, não podemos nos dar ao luxo de não fazer ato de memória, porque é a democracia que vivemos hoje é algo que custou caro, mas custou muito caro para os que efetivamente lutaram para que nós hoje possamos usufruir o pouco que temos. Acho que esse ato ele cumpre essa tarefa de comunicar, de dizer que nós não podemos nos dar ao luxo de esquecer o que vivemos, para, inclusive, assegurar que gerações futuras tenham conhecimento das razões do porquê estamos aqui hoje”, disse à Agência Brasil, Danilo Serejo, liderança quilombola e integrante do Movimento dos Atingidos pela Base de Alcântara (Mabe).

Para ele, bacharel em Direito pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), o ato também é um recado de que deve haver a responsabilização dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro.

“Os atos de 8 de janeiro estão diretamente conectados em razão da história mal resolvida que a sociedade brasileira e o Estado brasileiro têm com a ditadura. Não ter resolvido isso da forma como se deveria ter sido resolvido, não ter punido os generais, os militares que atuaram naquele momento é o que dá sustentação à tentativa de golpes como essa do 8 de janeiro. Por isso que é muito ruim do ponto de vista simbólico a orientação do governo brasileiro atual de não querer fazer um ato em memória ao golpe de 64”, assinalou.

O vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Maranhão, e estudante do curso de História da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Clark Azúca, destacou que o grito de “ditadura nunca mais” é a voz da sociedade em favor dos valores democráticos, contra qualquer tentativa de retrocesso autoritário. Por isso, a necessidade do direito à memória.

“A gente está falando hoje, no ato, que é um ato sobre memória, justiça e verdade. E a gente precisa lembrar  que o esteio comum a tudo isso é a não elaboração da memória pública, tanto para o golpe militar que aconteceu no Brasil, que não teve uma elaboração da nossa memória enquanto sociedade”, afirmou Azúca.

“A gente não pode falar em nação sem pensar na memória da gente. A memória é constitutiva, historicamente, do etos [costumes] da gente. Então, a gente tem uma organização social em que, simplesmente, se torna tabu falar sobre a ditadura militar, um processo tão traumático para toda a sociedade, mas especialmente para o povo. A gente está realmente com uma identidade que é faltosa de uma parte constitutiva da gente, como se fosse uma lacuna, um elefante branco do qual ninguém fala”, assinalou.

Ditadura

Durante o regime autoritário - que durou mais de duas décadas - opositores foram perseguidos, torturados e mortos, a exemplo dos estudantes Honestino Guimarães, então presidente da UNE, e Edson Luís. Houve censura imposta à imprensa, atingindo também a cultura. Artistas tiveram suas obras mutiladas, muitos foram exilados.

“Um dos primeiros atos da ditadura militar foi incendiar a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), porque sempre foi uma entidade que estava lutando, que nunca esteve fora da rua, que nunca deixou de estar falando. E os estudantes têm que estar presentes nisso, têm que estar presentes na rua, demandando a nossa justiça, demandando política para a gente, para a nossa juventude, demandando que a gente possa estar sendo representado. A gente precisa lembrar dos nossos mártires, a gente precisa lembrar de Honestino Guimarães, a gente precisa lembrar de Edson Luís. Esses foram nomes de pessoas que deram a vida para que a gente pudesse estar aqui hoje. A gente não pode deixar isso esquecer, a gente precisa sempre deixar nossa memória viva”, defendeu Azúca.

O estudante ressaltou, ainda, que diferentemente do final do regime militar, onde houve anistia dos crimes políticos cometidos por militares, tem que haver a responsabilização dos organizadores e participantes dos atos golpistas de 8 de janeiro.

“A gente teve nossa sede [da UNE] incendiada na ditadura militar, nós fomos criminalizados, teve gente presa e torturada e isso não pode ser esquecido, isso faz parte de quem somos, isso faz parte de quem somos enquanto União Nacional de Estudantes, faz parte enquanto juventude, isso faz parte da nossa história. Por isso que é tão importante para a gente estar nesses locais falando com a população, falando com os estudantes e levando justamente para conhecimento desse momento da nossa história, que não pode ser esquecido. É até curioso pensar que tem gente que volta a falar sobre a anistia e foi isso que não possibilitou que a gente elaborasse a nossa perda, porque foi um pacto social de silêncio em relação a todos os desmandos que aconteceram”, relatou.

“A gente está falando sobre a necessidade de que a juventude, principalmente, tenha acesso a essa parte do nosso passado que afeta diariamente a gente. A gente veio de um governo nos anos anteriores que eram filhos e filhas dessa truculência, dessa violência e desses absurdos da ditadura militar. Isso voltou para a gente, foi a gente que sofreu agora. Por mais que isso seja um sofrimento diferente, que tenha acontecido em tempos diferentes, mas uma coisa está relacionada a uma outra. A gente não pode deixar de relacionar isso. E a gente não pode deixar de elaborar essa memória para que, justamente, isso não se repita”, finalizou Azúca.

São Paulo (SP), 23/03/2024 - Mobilização nacional de lutas pela democracia e contra anistia a golpistas, organizada pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, Largo São Francisco. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Mobilização em defesa da democracia e contra anistia a golpistas movimentou São Paulo e outras cidades  Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Voz da juventude

A professora do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Maranhão, Arleth Borges, disse que a participação da juventude nesses espaços é fundamental para o impulsionamento das lutas populares no país.

“É muito simbólico, muito bom, que os estudantes estejam aqui, porque isso é uma garantia de vida, de luta, tanto no presente quanto no futuro, e a gente precisa disso, porque os desafios colocados são imensos, não são de agora, [eles são] uma luta tenaz, demorada”, argumentou.

“Estamos numa conjuntura muito desafiante e complexa. Mesmo o pouco que a gente alcançou [após a ditadura militar] está sob risco e a gente tem que dar a centralidade da luta de defender a democracia. Depois que terminou a ditadura, eles ficaram envergonhados, tiveram um momento de um certo acanhamento e, agora, a direita está aí, mais extremista do que nunca. Às vezes, a gente se ressente de que somos poucos, mas ninguém está aqui com condições facilitadas como as que a gente viu naquele 8 de janeiro. A nossa luta tem uma dignidade. Fico contente por todo mundo que está aqui lembrando a associação [do 8 de janeiro] com 1964”, emendou.

A professora relacionou, também, momentos históricos do país em que houve ruptura institucional quando governos progressistas chegaram ao poder, a exemplo do governo do presidente João Goulart (foto). Arleth disse ainda que é fundamental para a memória do país a construção do Museu de Memória e Direitos Humanos, com memórias da ditadura militar.

“Os indígenas e os quilombolas começam a levantar a cabeça e vem novamente a tal da roda-viva, querendo de novo nos rebaixar, nos agachar. Foi assim quando, por exemplo, a gente, como país, queria levantar a cabeça após a ditadura do Estado Novo, aí veio o golpe de 64. Aí, a gente estava se reerguendo, agora de novo, depois da ditadura militar, votando por partido e presidente de esquerda no comando do país, aí vem novamente. Então, é um desafio que é permanente, mas que só empresta grandiosidade à nossa luta e à nossa resistência. 1964 não acabou, é um desafio, é uma página que paira sobre as nossas cabeças. É fundamental que a gente nunca deixe de lembrar disso, pelos que se foram, por nós que estamos aqui e pelos outros que ainda virão e nós temos um compromisso com o futuro desse país, com a dignidade para as nossas novas gerações”, finalizou Arleth.

Palestina

Os atos de hoje - organizados pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo - contaram com apoio de centrais sindicais e partidos progressistas e também chamam atenção para o massacre contra o povo palestino promovido por Israel em Gaza.

As autoridades de Gaza afirmam que, desde o início da guerra de Israel com o Hamas, em 7 de outubro, 32.142 pessoas morreram na Faixa de Gaza, a maioria mulheres e crianças. Pelo menos 72 pessoas morreram nas últimas 24 horas. Nessa sexta-feira (22), o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) não conseguiu aprovar uma resolução que pedia cessar-fogo imediato em Gaza.

“A gente está aqui falando de memória e a gente sabe que precisa saber da história para saber que está acontecendo um genocídio na Palestina”, finalizou Azúca.

Edição: Kleber Sampaio 

Fonte:  https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-03/ativistas-promovem-atos-em-defesa-da-democracia-brasileira

quarta-feira, 20 de março de 2024

Juro da celic está baixando lentamente

 

Copom reduz juros básicos da economia para 10,75% ao ano

Queda de 0,5 ponto era esperada pelo mercado financeiro

Publicado em 20/03/2024 - 18:38 Por Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil - Brasília

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O comportamento dos preços fez o Banco Central (BC) cortar os juros pela sexta vez seguida. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic, juros básicos da economia, em 0,5 ponto percentual, para 10,75% ao ano. A decisão era esperada pelos analistas financeiros.

Em comunicado, o Copom informou que deverá fazer apenas mais uma redução de 0,5 ponto na próxima reunião, em maio, o que aumenta a chance de a autoridade pausar o ciclo de cortes a partir de junho. Nos textos anteriores, o órgão indicava que prosseguiria com as reduções “nas próximas reuniões”.

Segundo o comunicado, o cenário para a inflação permanece inalterado, com riscos tanto de alta como de baixa. Entre os fatores que podem elevar a inflação, estão a persistência das pressões inflacionárias globais e o aquecimento do setor de serviços. Entre os possíveis fatores de queda, estão a desaceleração da economia global maior que a projetada e impactos mais fortes que o esperado das altas de juros em outros países.

A taxa está no menor nível desde março de 2022, quando também estava em 10,75% ao ano. De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis. Por um ano, de agosto de 2022 a agosto de 2023, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.

Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de covid-19, o Banco Central tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.

Inflação

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em fevereiro, o indicador ficou em 0,83% e acumula 4,5% em 12 meses. Após sucessivas quedas nos últimos meses, a inflação voltou a subir levemente por causa de alimentos e de serviços de educação.

O índice em 12 meses está exatamente no teto da meta de inflação. Para 2024, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou meta de inflação de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não podia superar 4,5% nem ficar abaixo de 1,5% neste ano. 

No Relatório de Inflação, divulgado no fim de dezembro pelo Banco Central, a autoridade monetária manteve a estimativa de que o IPCA fecharia 2024 em 3,5% no cenário base. A projeção, no entanto, pode ser revista na nova versão do relatório, que será divulgada no fim de março.

As previsões do mercado estão mais otimistas que as oficiais. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 3,79%, abaixo portanto do teto da meta. Há um mês, as estimativas do mercado estavam em 3,82%.

Crédito mais barato

A redução da taxa Selic ajuda a estimular a economia. Isso porque juros mais baixos barateiam o crédito e incentivam a produção e o consumo. Por outro lado, taxas mais baixas dificultam o controle da inflação. No último Relatório de Inflação, o Banco Central reduziu para 1,7% a projeção de crescimento para a economia em 2024.

O mercado projeta crescimento um pouco melhor. Segundo a última edição do boletim Focus, os analistas econômicos preveem a expansão de 1,8% do PIB em 2023.

A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o Banco Central segura o excesso de demanda que pressiona os preços, porque juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.

Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação. Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços estão sob controle e não correm risco de subir.

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ArteDJOR

 Edição: Carolina Pimentel 

Fonte:  https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2024-03/copom-reduz-juros-basicos-da-economia-para-1075-ao-ano

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